terça-feira, 15 de maio de 2012

Do Tempo

Continuando nossa reflexão sobre "O Tempo", compatilho com vocês uma poesia de Jaime Caetano Braun:
Do Tempo
O tempo vai repontando O meu destino pagão 
Vou tenteando o chimarrão 
Da madrugada clareando 
Enquanto escuto estralando 
O velho brasedo vivo 
Neste ritual primitivo 
Sempre esperando, esperando…
  
É a sina do tapejara 
Nós somos herdeiros dela 
Bombear a barra amarela 
Do dia quanto se aclara 
Sentir que a mente dispara 
Nos rumos que o tempo traça 
Eu me tapo de fumaça 
E olho o tempo veterano 
Entra ano e passa ano 
Ele fica a gente passa
  
Que viu o tempo passar 
Há muita gente que pensa 
Mas é grande a diferença 
Ele não sai do lugar 
A gente que vive a andar 
Como quem cumpre um ritual 
É o destino do mortal 
É o caminho dos mortais 
Andar e andar nada mais 
Contra o tempo, sempre igual 

Tempo é alguém que permanece 
Misterioso impenetrável 
Num outro plano imutável 
Que o destino desconhece 
Por isso a gente envelhece 
Sem ver como envelheceu 
Quando sente aconteceu 
E depois de acontecido 
Fala de um tempo perdido 
Que a rigor nunca foi seu.

Pensamento complicado 
Do índio que chimarreia 
Bombeando na volta e meia 
Do presente no passado 
Depois sigo ensimesmado 
Mateando sempre na espera 
O fim da estrada é a tapera 
O não se sabe do eterno 
Mas a esperança do inverno 
É a volta da primavera.
  
Os sonhos são estações 
Em nossa mente de humanos 
Que muitas vezes profanos 
Buscamos compensações 
Na realidade as razões 
Onde encontramos saída 
Nessa carreira perdida 
Que contra o tempo corremos 
Já que, a rigor, não sabemos 
O que haverá além da vida. 

Dentro das filosofias 
Dos confúcios galponeiros 
Domadores, carreteiros 
Que escutei nas noites frias 
Acho que a fieira dos dias 
Não vale a pena contar 
E chego mesmo a pensar                                                               
Olhando o brasedo perto 
Que a vida é um crédito aberto 
Que é preciso utilizar.

Guardar dias pro futuro 
É sempre a grande tolice 
O juro é sempre a velhice 
E de que adianta esse juro 
Se ao índio mais queixo duro 
O tempo amansa no assédio                                           
Gastar é o melhor remédio 
No repecho e na descida 
Porque na conta da vida 
Não adianta saldo médio!

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